Eu não sinto nada.
- oneprince.
- 2 de out. de 2015
- 3 min de leitura
Eu não choro mais, porque para chorar eu preciso sentir alguma coisa. Sentir que ainda estou vivo, que há esperança dentro do meu peito. Eu necessito sentir alguma coisa, qualquer coisa. Eu estou morto há dias. Preciso de uma dose de vida. Uma quantia considerável para que me reviva.
Sempre quando eu me sentia culpado ou quando ela me dizia coisas que não se diz nem a um animal, eu passava a noite chorando. Eu remoía aquelas palavras no peito até adormecer. Ela fez isso de novo semana passada e eu não chorei. Eu quis chorar, eu até forcei o choro. Nada saiu. Nenhuma lágrima desceu. Fiz cara de choro, mas não foi choro. Quiçá, eu tenha me acostumado com os maldizeres que ela traz sempre que escuta o meu nome.
Sentir, dói. Não sentir nada, é perturbador. Eu prefiro mil vezes morrer por amor do que estar assim. Eu não sei explicar direito, mas eu sei que não sentir nada é uma droga. É como receber anestesia, você cutuca a ferida e não sente nada. Eu não quero isso, eu não quero. Eu quero cutucar o meu coração partido e quero vê-lo sangrar e então, chorar em paz.
Outrora, eu fingia que não me importava com nada e, puta merda, fingir que não se importa é difícil pra caralho.
Meus amigos falam sobre ela, sobre os caras, sobre os seus planos, sobre suas burrices e sobre sua vontade de mostrar que pode ser alguma coisa. Eu não sinto nada. Não sinto vontade de esganá-los. Não sinto ciúmes. Eu não sinto porra nenhuma e, não sentir nada é horrível. Era para eu estar naquele canto escuro ouvindo músicas tristes e chorando, chorando muito. Era para as lágrimas rolarem. Eu preciso que elas rolem. Eu preciso sentir alguma coisa, pois não sentir nada é terrível.
Eu quero me apaixonar mais uma vez; olhar para alguém com carinho e dedicação; receber um abraço surpresa; um beijo inesperado e um olhar esperançoso e confiante sobre um tal de ‘’nós’’. No entanto, para que tudo isso aconteça, eu preciso chorar, eu preciso sentir alguma coisa, qualquer coisa.
Meu coração se tornou um bloco de gelo. Eu não tenho a opção de escolher o Outono, ou a Primeira ou o Verão. Já escolheram por mim. Eu sou inverno, caos e furacão. Tempestade, noite e bicho-papão. Eu sou tudo de ruim e tudo de bom e, e eu não choro mais. Eu não choro mais e eu queria tanto chorar. Meus olhos brilham de vontade, mas nenhuma lágrima desce. Nada de choro, nada de sorriso, nada de amar. Nada de sentir, nada de viver. Nada de ser feliz e muito menos, infeliz. Só posso sentir o nada. O vácuo. O abismo me encarando, a corda pedindo ajuda, o gatilho querendo ser puxado e o caminhão querendo atropelar alguém. Eu sou um nada sentindo absolutamente nada. Eu fui tudo para se tornar um nada. Sou um nada querendo não ser mais nada. Não quero estar com o nada. Eu quero chorar de soluçar. Eu quero chorar para sentir.
É fundamental para a minha mera existência sentir alguma coisa; faz parte do que sou; faz parte da minha segurança; da minha felicidade; da minha tão sonhada e procurada paz.
Mas, sabe o que eu descobri? Descobri que sentir nada é bom no final das contas, significa que você ganhou; que finalmente você a esqueceu; que o passado é só mais uma história que começa com ‘’Era uma vez...’’.
Comentários