Demônia.
- oneprince.
- 30 de dez. de 2015
- 3 min de leitura
No momento em que te vi, pensei que estava louco. Não tinha lógica você estar ali. Todos os dias eu andava e nunca te encontrava. Justo hoje que eu tinha esquecido que tinha um grande não-amor você aparece? Do nada? Como mágica? Como se a vida tivesse comemorando o Halloween e tivesse me perguntando doce ou travessura? E eu respondido com aquela cara de deboche e de macho-alfa: hoje eu estou para a travessura, meu amor. Porque hoje é dia de comemorar. Hoje é dia de se divertir. Dia de beijar na boca. Como se a vida tivesse aprendido a ser irônica. ''Tudo bem'', disse pra mim mesmo. ''Essas coisas acontecem'', pensei inocentemente. ''Essa demônia não pode estragar a minha noite. Já basta a minha vida. Eu vou é fingir ser o cara mais feliz deste mundo. Aliás, eu sei me divertir''.
Sabe o que é pior? Depois que eu a vi com o namorado, eu desviei o olhar rapidamente e quando olhei novamente, já não estavam mais lá. ''Deve ser a vodka que acabei de beber'', pensei. ''Agora deu, eu tenho alucinações''.
Era ela: A demônia do meu inferno. Quando tive plena certeza, eu quis cavar um buraco e me esconder. Eu não sabia onde enfiar a cara. E eu tinha que enfiar a minha cara em algum lugar. Eu não consiguiria olhar em seus olhos escuros flamejantes sem tropeçar em algumas palavras.
Meus pulsos estavam sangrando. A morte me visitou naquela noite me perguntando se eu queria ficar mais um pouco. Eu quis mandá-la se foder, mas ela já tem uma grande responsabilidade que deve a foder muito. Seria deselegante e desumano. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu quis chorar nos braços de alguém, mas aguentei firme. Pensava: Não posso chorar aqui e agora. Então, guardei o choro como qualquer outro cara faria. Me controlei para não ir embora e tentei parecer o mais normal possível. Tentei ficar distante dela, todavia, mesmo com toda aquela escuridão eu a encontrava. Eu não conseguia perdê-la de vista. Aquela demônia estava me sufocando como antigamente.
Mas você sabe, né? As coisas sempre pioram. Ainda mais quando você solta um clichê: O quê mais me pode acontecer, Senhor? Puff. Acontece. Acontece que eu vi a minha amiga pegando um cara e ela era a única chance que eu tinha para mostrar que tinha superado aquela demônia. Fora que ela era a única que eu beijaria. As outras duas eram lésbica. Foi aí que eu notei mais uma vez que meus pulsos estavam sangrando. Eu estava precisando de colo; de mãos dadas; de abraço; de Deus. O máximo que consegui foi mostrar que eu sabia cantar Sorry, pular e erguer as mãos para cima.
É, no final as coisas deram certo e agora eu estava livre descendo a rua cantando Anna Júlia com o coração em chamas:
Quem te ver passar assim por mim não sabe o que é sofrer Ter que ver você assim sempre tão linda Contemplar o sol do teu olhar, perder você no ar Na certeza de um amor Me achar um nada Pois, sem ter teu carinho eu me sinto sozinho Eu me afogo em solidão
A música ficou distante e o choro se foi como eu fui. Ás vezes, quando a escuridão e a chuva me engolia, eu podia senti-la ateando gasolina em mim.
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