O Homem é uma vadia.

Somos todas vadias. Eu sou a vadia de um sistema capitalista. Eu sou a vadia da fila do amor. Eu sou a vadia na fila do pão cabisbaixo pedindo para a solidão me abandonar. Eu sou a vadia da alegria, onde eu imploro por segundos de felicidade. Eu sou estuprada por olhares e por sentimentos nocivos. Sou feita de vadia por um governo explorador. Sou feita de vadia quando peço liberdade e me dão prisão. Eu sou abusada todos os dias e não há delegados ou presidentes que podem me tirar desta situação. Estou dentro de um sistema que não construiu alternativas de fugas. Todo mundo é a vadia de alguém. Todo mundo já teve que estar de quatro. Todos já tivemos que se foder para se foder mais e mais. A saída é a morte e até ela me faz de vadia. Me faz esperar e essa espera é o preço que ela cobra. Somos os brinquedinhos dos deuses. Nascemos, vivemos e depois disso, descobrimos que estávamos o tempo todo tentando sobreviver. Nascemos para servir algo ou alguém e com um único propósito: procriar; fazer os deuses gozarem. E qualquer um que tente mudar este fato, é condenado por pessoas que, adivinhem? Também são vadias. Não temos como fugir deste rótulo. Não há quem corte esse lacre. Eu sinto muito, meu amor, eu andei te traindo. Não foi só uma vez, foram centenas. Todo mundo já passou a mão em mim; todo mundo já tirou uma casquinha; todo mundo já me comeu. Eu sinto muito. Eu não queria que fosse assim. Desculpa eu te contar desta forma e, justamente agora que te encontrei, que finalmente encontrei alguém. Me desculpe, mas eu sou uma vadia.