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Uma caixa de ovo, por favor.

  • oneprince.
  • 28 de mai. de 2016
  • 3 min de leitura

O quê meia-dúzias de palavras tornariam-me agora? Suspiro: eu não vou conseguir terminar esse texto, provavelmente, o excluirei daqui uma semana quando perceber que não é mais viável. Sinto um calafrio espalhando-se pelo o corpo: a sensação de desgraça sufoca-me como a corda do suicida. Os olhos, desconfiados, preparam-se para falhar. Eis o plano deles: deixam as malditas lágrimas expostas, mas não o suficiente para o sofrimento lagar-me. Não aguento mais ser sequestrador e refém. Eu sou um poço com a carga de uma barragem, é mais do que posso comportar. A angústia me vence e eu me perco. Sinto uma gota de lágrima escorrendo pelo o rosto com o incômodo de um oceano. Elas carregam rótulos como etiquetas, tituladas como lágrimas de dor. É. Tudo dói. O peito, a insistência em respirar, o orgulho ferido, a cara de perdedor. Não sei exatamente o que devo sentir nesse momento. A inutilidade cansa, opressa e dói. Não estou conseguindo traduzir os meus sentimentos. As palavras não se encaixam. Elas não parecem certas. Tudo parece tão errado. Sinto-me incapaz de escrever o alfabeto sem parecer errado. Sinto-me debilitado em compartilhar esse sentimento de insatisfação. Elas me abandonaram, jogaram-me de cima do prédio, mas continuo parado no mesmo lugar, elas não me deixam me mexer. Bato na mesma porta com o mesmo pedaço inútil de cano. Eu quero escapar e voltar a escrever, porém, eu não consigo entender o que está acontecendo comigo, com a minha vida, com as pessoas em minha volta, com a minha moral, com a minha personalidade. Estou dividido, carregando tantas dúvidas, formas de viver, pensamentos exagerados, melancolia. Preciso chorar, e o choro não sai, as palavras não sai, a vida não sai do lugar, a música não para de repetir e repetir, insisto nos mesmos filmes, procuro novas séries, mas continuo cobiçando as anteriores, eu continuo batendo na mesma porta com o mesmo pedaço de cano inútil, não sei o que está acontecendo, não sei o que vem pela frente, nem o que ocorreu lá atrás. Há um acúmulo de palavras não ditas me acusando de falta de atitude, há um grupo de respostas me cobrando perguntas, há outro, me cobrando silêncios. Desde quando fico sem dizer ou perguntar alguma coisa? Desde quando não penso antes de dizer bobagens? Há um grupo, ainda maior, me dizendo que não sou mais capaz de escrever. Talvez, eles tenham razão, porque, desde quando penso antes de escrever? Por que as palavras estão demorando tanto para saírem? Por que estou batendo na minha cabeça como se ela fosse a culpada? Por que estou chutando a escrivaninha e esmurrando a parede? Sinto falta daquela sensação que não era eu que estava escrevendo, mas que eram as palavras que estavam. Ah, são tantas coisas para fazer; para dizer; para mudar; por onde eu começo? Eu não sei como me comportar. Há essas escolhas, essa distância entre eu e o asfalto, só consigo mover os meus olhos, eles não estão contentes, meu coração quer saltar peito afora, minhas mãos querem me proteger do inevitável e meu cérebro deseja voar. Encaro o asfalto e me sinto satisfeito. Ambiciono uma queda lenta; saborear o gosto bom de cada lembrança. Há sangue na calçada e uma vontade de viver. Não vejo as palavras em lugar nenhum e isso me deixa frustado, com medo e triste.


 
 
 

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