Céu escuro.
- oneprince.
- 22 de jun. de 2016
- 3 min de leitura
Odeio o frio; odeio as impossibilidades e a instabilidade que ele carrega; odeio o tempo ruim, o vento gelado e todas essas roupas; odeio a falta de verão nos dedos das mãos; odeio a falta de vontade de sair; odeio esse maldito celular; odeio o fato de ter que fazer aniversário, mas odeio mais ainda o fato de insistirem em me desejarem “parabéns”. Não percebem? É só uma desculpa dos pais para te abraçarem. Odeio o tempo feio de segunda-feira em um domingo; odeio dor dente, odeio dor de cabeça, odeio ter que sentir dor, odeio ter que tomar remédios constantemente e eu odeio mais ainda o fato de deslumbrar a boca cheia de comprimidos; odeio a mão que compulsivamente tenta sentir o celular, odeio os olhos por quererem algo tão estúpido como um nome; odeio o fato de não conseguir me livrar do fútil; odeio o fato de ficar comentando sobre política; odeio a falta de prática, o cru; odeio teorias, perguntas, entrevistas de empregos, supermercados, igrejas, farmácias, lojas e shoppings; odeio o fato de ser um viciado, um “acredito em tudo o que me contar”, um ditador do amor, um correspondente, um “é isso o que eu tenho que fazer? Fácil, eu faço”, um egoísta de fachada e um “eu quero fazer do mundo um lugar melhor”; odeio os momentos em que rotulei alguém; odeio quando eu deixei me levar pelos amigos e ri da aparência de alguém; odeio a forma que trato a existência de um ser superior; odeio acreditar que todas as religiões podem estarem certas sobre poucas coisas e que podem estarem erradas sobre tudo; odeio o fato do coração tripudiar sobre o papel de coadjuvante; odeio ter que me convencer que não sou um figurante; odeio mais ainda pensar que a vida de um protagonista não é pra mim; eu odeio o frio, odeio as lágrimas que ficam presas, as palavras que travam na garganta, as que não entalam, as que saem e ferem e a forma que as interpretam; odeio me satisfazer em Shameless e me desesperar em Game Of Thrones, odeio ter deixado de lado Gotham, Once Upon a Time e Bates Motel, odeio ter preguiça de checar a volta de Vikings, House of Cards, The Big Bang Theory, Better Caul Saul, Fear The Walking Dead, The Vampire Diries, e Teen Wolf, odeio a vontade de querer rever Breaking Bad, Selma e Ray, odeio o fato de ter que esperar a volta de The Walking Dead, odeio todos esses documentários que andei assistindo, todas essas biografias, todos esses filmes Cult; odeio essa urgência em escrever, mas odeio mais ainda o fato de eu saber lidar com isso; odeio que me comparem com conhecidos da mídia; odeio críticas e elogios com intenções; odeio que me chamem para conversar; odeio a conveniência em que os comércios tem que criarem; odeio o fato de eu ter odiado visitas surpresas; odeio a falta que sinto de momentos com ele… O inverno é tão feio, eu também. Faz dias que não olho para o céu, tem dias que não sei o que é luz do sol, sinto-me um homem livre preso dentro de casa, sinto-me engaiolado em um mundo que não me deixa voar. A única coisa que me deixava feliz era voltar de um encontro, olhar para cima e me deparar com as estrelas. O inverno é tão bonito, eu também. Voltando pra casa, vi milhares de folhas secas cobrindo uma rua inteira, vi árvores nuas, há beleza nisso, mas odeio o inverno e me odeio por odiá-lo. O que ele fez pra mim? Ás vezes, quando quero ver o sol, não posso, há nuvens escuras e enfurecidas me aborrecendo, às vezes, eu quero sair, a chuva me castiga, me desanima, me bate e me abate. Ás vezes, quero andar, me arrumo, boto os pés para fora de casa e sinto que não é um bom dia para caminhar, o céu não está azul. O inverno é feio, eu também. Enrolo-me em cobertas, faço chá, reclamo, xingo, enfureço-me, sinto medo, ódio, raiva. O inverno tira o melhor de mim. Desarma-me. Ergo-me com espinhos.
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