Lugares.

Na Igreja:

— Olha, irmã, o capeta sorriu.

Na rua:

— Maldito, ele faz parecer tão fácil. Qual é? Não é tão simples assim… ele não pode continuar com isso, pode? Não há uma lei para que ele pare de fazer o quê está fazendo no meio da Avenida? “O que ele está fazendo?”. É SÉRIO ISSO? Você está realmente me perguntando? Olhe para aquele bastardo! Olhe para aquele… olhe… olhe de novo… o sorriso dele… cacete… olhe para aqueles dentes…. como é que ele consegue? Não é possível, é? Isso é coisas de revistas e filmes, não há como alguém ter um sorriso tão lindo assim, não tem como ter dentes tão retinhos e tão brancos… merda! Tem?

Na casa de C:

— Eu não sorrio, então não há motivos pra ele sorrir, aliás, por que diabos ele sorriria?

Na Praça de alimentação:

— Por que ele está sorrindo? Não é permitido. Eu não deixei. Segurança! Aqui, por favor. Sim, eu chamei. Por quê? Vou te contar, ou melhor, vou te mostrar: está vendo aquele ali, perto da Sanduíches Todos os Dias. É, isso, naquela mesa. Do lado daquele rapaz de boné azul na frente daquela ruiva. Não, não daquela, a outra. Isso. Exatamente. “O quê tem ele?”, o quê tem é que ele… olha como ele sorri… olha aquela marquinha… está vendo? Não, não, não. Não dá pra chegar mais perto. Ele pode me ver. Não quero que ele me veja. Presta atenção, olhe. Não consegue? “Como é que eu estou vendo?”, que pergunta é essa? Como é que você não está vendo? É daltônico? “O que tem a ver?”, TEM TUDO A VER. Desculpe-me, acreditei que entenderia… tudo bem, é que… ele não deveria estar aqui, ele não deveria estar sorrindo por aí. “Ordem de restrição?”, do que está falando? Não, não, é claro que eu não tenho uma contra ele e, bom, se eu tivesse seria uma para mantê-lo perto, nunca longe.

Em casa:

— Mãe, cadê a minha meia? Eu cuido das minhas coisas, sim. Mãe? Nada. Tudo bem, mas não precisa gritar… é que… por que é que ele tem um sorriso tão bonito? Por que os dentistas tem mais sorte do que eu? Por que eu não consigo achar nem a droga da meia, mas ele eu consigo?