Posso?
- oneprince.
- 15 de jul. de 2016
- 2 min de leitura
Eu não me encaixo aqui: “não posso” ter barba, beijar quem eu quero, usar roupas rasgadas e desbotadas, dizer o verdadeiro lugar que estou indo aos meus pais, ser ateu ou hinduísta, “não posso” usar piercing e ter tatuagens expostas em uma entrevista de emprego, “não posso” nem ter certeza que se eu contar aos meus pais que tenho um namorado, eu vou continuar vivo ou tendo um teto para morar, eu “não posso”, simplesmente, “não posso”, “não posso” ser ou ter tantas coisas sem ter que manifestar um “porque”, que, dificilmente, será aceito ou compreendido.
“Não posso” responder a minha mãe, porque é falta de educação, porque é isso, é aquilo. Não temos uma relação saudável e eu não gosto disso, se ela tem o direito de falar o quer sem se importar com o que sinto, eu também tenho. Mas não, essa porra aqui é realidade e isso que eu quero, é fantasia. E é a mesma coisa com o carinha lá de cima, Ele pode ser o ditador do que é certo e errado, do que é bom e do que é ruim, mas mandá-lo se foder seria anticristão, xingá-lo de filha da puta enquanto observo o céu seria um absurdo. O quê a maioria das pessoas tem com Deus não é saudável! Enquanto elas dizem amém, Ele despeja merda pra todo lado.
Quer falar do diabo? Vamos falar dele, porque ele, sim, tem um relacionamento recíproco com a gente, porque, todo mundo sabe que ele quer nos foder e o que fazemos? O culpamos, o insultamos, dizemos maldito seja o seu nome. Pra mim, isso é saudável, essa é a minha meta de relacionamento.
Cada vez mais tenho certeza que essa não é a vida que anseio ter: cheio de desejos encubados porque não são aceitos, ideais ou próspero para a sobrevivência do Estado. Eu quero algo a mais, eu quero crescer gradativamente e nacionalmente, aprender francês e russo, parar de odiar coisas e pessoas com tanta facilidade, começar a gostar mais do mundo, da forma em que os prédios são, a sutileza em que as folhas organizam-se no chão, eu quero enxergar mais, ouvir os sons mais bizarros que existem nessa porra, gritar com os meus amigos, dizer que eles estão fodidos, sussurrar que os amo, bravejar que estão errados, ter muito mais que uma amizade quando me convém, quando eu quero, quando eu posso. Eu desejo algo a mais e sinto-me sufocado por não saber direito o quê é esse “algo a mais”.
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