José Saramago.

Tudo o que sai de dentro de mim tem um ponto de interrogação, tento mudar este cenário, mas não dá, perguntas e mais perguntas, De onde elas veem?, reajo instintivamente, Por que tantos questionamentos, Lucas? Por que tu pensas tanto?, fito o chão, o asfalto é coberto por sombras e luzes, carros apressados, carros a passeio, Qual é o seu maldito problema?, o mundo gira, é dia no Japão, Um dia de cada vez, lembra? Era o combinado, Para, tu não precisas de respostas; aliás, qual é a necessidade de questionar o mundo e suas perversidades? Que proveito tu podes tirar destas tuas perguntas?, nenhuma, Mas e como fica a obsessão de ter o mundo nas mãos? De conhecê-lo? De indagá-lo por suas respostas? De ter tudo e agora e ao mesmo tempo não querer nada? Apenas o vácuo?, "Encontre outro jeito de te saciar", é o que me diriam, Preenche esse teu vazio com outra merda, parafraseio, Todos fazem isso, é o argumento, Por que diabos tu tens que ser diferente?, já estou cansado de empacar nesta questão, Para, chega, tu não precisas disso, não há primordialidade de questionar a vida, suas crueldades, a porra da morte ou qualquer outra droga que esteja pensando, tu não és um filósofo, só é mais um pedaço de nada em mundo de nadas, ataco-me, Que é a morte? Como é que saberei Que é a morte se tudo ficará escuro? Tudo fica escuro? Penso? Como? Como que é possível existir essa realidade? É como dormir? Tu sonhas?, não sei, não sei, Alguém capaz?, ninguém responde, mas a vontade de perguntar continua me habitando, como o desejo de morrer, vagar na escuridão de lembranças não tão boas, me afogando na procura das boas, nadando na densidade da morte, sem saber direito o que realmente estou fazendo, o que realmente estou lembrando, se é que lembrarei de alguma coisa e se estas coisas serão boas ou ruins e na ordem, ou fora, É a morte, apenas a morte, uma tela pintada de preta, inerte.