Tempos Modernos.

"vocês não são um casal", ecoa na minha mente. "vocês não são um casal", por quê? "vocês não são um casal", não temos planos? metas? beijos? sexo? saudade? lá estava eu, descendo do ônibus - que havia arregaçado a frente de um carro - e entrando em outro. a chuva já havia parado. o ônibus seguiu para o terminal. refizemos o trajeto. nos olhamos, rimos, encarei a tecnologia, ri, rimos, voltei a tecnologia, o encarei, a chuva voltou. nosso ponto chegou, descemos, o Lucas enfiou o capuz na cabeça e eu a blusa de moletom. "vocês não são um casal". "é por aqui", diz a proprietária. "entrem, fiquem a vontade", prosseguiu. "temos um relacionamento aberto". "vocês não são um casal". eu e o Lucas entramos. olhamos, aprovamos, negociamos. "temos um relacionamento poligâmico". "relacionamento é entre duas pessoas". "essa é bem maior que a outra", o Lucas comenta. concordo e continuo "e mais barato, fora que a água já é inclusa". "esse é meu namorado". "isso não é um relacionamento". caminhamos na chuva até o ponto. o meu moletom já não me protege mais da chuva. desisto. a chuva cobre o meu rosto e o meu cabelo. me sinto ridículo. o Lucas discorda e comenta: "eu é que estou". olho-o. de boné e de capuz. óculos. não consigo achá-lo ridículo. "eu sou gay". "isso não é normal".